sexta-feira, 11 de abril de 2008

Fichamento de HOBSBAWM, Eric J. Uma economia mudando de marcha. (capítulo II). In: A Era dos Impérios 1875-1914. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988. p

Eric J. Hobsbawm em seu texto, Uma Economia Mudando de Marcha, propõe-se a analisar as transformações das relações capitalistas de fins do XIX e início do XX, esmiuçando o poder de adaptação das economias centrais e o surgimento de novos eixos, sobretudo posteriormente a “Grande Depressão”.
O autor inicia sua produção com o objetivo de visualizar de forma mais clara as crises econômicas ocorridas na segunda metade do século XIX. Primeiramente é destacado que em tal período, diferentemente do que se possa supor, a produção não apresentou níveis de estagnação ou queda, mas um intenso aumento.
Somado ao elevado índice produtivo, o texto contém dados que evidenciam maciços investimentos do capital europeu em outros estados, observando-se a América como um dos principais destinos deste tipo de empreendimento, juntamente com este a proporção da entrada de imigrantes eleva-se consideravelmente. Baseando-se nestas premissas, o autor realiza o questionamento central de sua referida produção: Será que um período com um aumento tão espetacular da produção podia ser descrito como uma “Grande Depressão”?(HOBSBAWM, 1988, p.59).
Diante da questão registrada outros parâmetros são formulados ao longo do texto, o que auxilia a compreensão do caráter complexo do termo crise, principalmente no pós- segunda Revolução Industrial, assim como as várias “feições” as quais o capitalismo se apresenta.
Inicialmente a dissociação entre produção e depressão fica evidenciada. Hobsbawm demonstra que a principal preocupação de economistas e empresários consistia na diminuição da margem de lucros. Logo o problema central não reside na produtividade alcançada e sim na possível rentabilidade desta.
Um exemplo de tal lógica estava na agricultura. A produção agrícola havia atingido volumes elevadíssimos, porém, segundo Hobsbawm com a diminuição do custo de transporte e a entrada extrema dos produtos primários no mercado mundial a desvalorização se tornou algo praticamente inevitável.
As conseqüências deste processo, no que diz respeito às camadas populares concretizaram-se na emigração, o que ajuda no entendimento das observações mencionadas em relação à chegada de grande número de imigrantes a América, e na formação de cooperativas principalmente entre os que não possuíam terras ou capital.
O sistema industrial não constituiu exceção, distante disto, os complexos industriais sofreram os efeitos da super-produção. O caráter dual do capitalismo é demonstrado para se entender o processo. Este sistema em sua constante busca por novas tecnologias que possibilitem a obtenção de uma capacidade produtiva cada vez maior, introduz a perspectiva de elevação dos lucros, com uma produção mais eficiente a um custo menor. Simultaneamente contribui para a desvalorização do bem envolvido; acrescentando-se a isto uma de suas principais bases; a concorrência, que igualmente irá propiciar uma elevação quantitativa do bem no mercado, o que contribui para a queda de seu valor.
Assim, conforme o exposto, o autor expõe as respectivas reações relacionadas às crises econômicas, confirmando a lógica capitalista de mudança e adaptação. O protecionismo é descrito como a ação política contra a “Depressão”, porém as reações do capitalismo, segundo Hobsbawm, partem em outra direção.
A concentração econômica é apontada como um dos formatos adquiridos pelos agentes do capital. O controle do mercado entre empresas que a priori deveriam ser concorrentes, determina praticamente o domínio de importantes fatias da economia, o que em tese garantiria extensas proporções de lucros. Como ressalta o autor, haveria uma propensão ao monopólio e ao oligopólio, sobretudo na indústria pesada, em setores atrelados a encomendas governamentais.
Uma outra forma de reação capitalista consistiria na administração científica. Basicamente este conceito envolve um formato de produção industrial que viabilizaria o incremento produtivo com um operariado mais eficiente, por meio de novos métodos, como a divisão sistemática, o estabelecimento de metas e o pagamento de salários de acordo com o nível de trabalho.
Uma terceira possibilidade consiste no Imperialismo, derivada igualmente das forças capitalistas. A lógica de expansão dos mercados consumidores comanda este conceito, além da minimização dos problemas sociais como o envio de grandes contingentes as áreas de influência.
As considerações apresentadas tratam de ampliar os parâmetros do que pode ser entendido como crise. Esta pertencente a um sistema capitalista intimamente ligado a segunda revolução industrial. Igualmente ocorre a ilustração das mutações às quais o capitalismo é capaz. Posteriormente Hobsbawm trata de mais uma alteração consumada com o referido sistema, proposição na qual o autor procura sintetizar a economia mundial na era dos impérios, traçando uma linha de raciocínio até os novos contornos apresentados.
Diante do exposto pode-se notar que o caráter mais extenso no que se refere à termos geográficos, a quantidade de países industrializados aumentara, incluindo estados fora do centro europeu, propiciou uma rivalidade entre potências. O que acabou por marcar a dinâmica do período. Somados a este fator, a revolução tecnológica conferiu novos padrões e escalas a praticamente todos os aspectos econômicos, de certa forma remodelando-os.
A personificação deste processo pode ser visualizada na Inglaterra que mesmo reduzindo sua efetiva produção industrial, continuou exercendo papel fundamental na economia global, principalmente com a venda de serviços e investimentos. O que confirma a lógica capitalista, cada vez mais passível de transformações, e que permite evidenciar que as crises são tão pertencentes ao capitalismo como a concorrência, o lucro, a necessidade de expansão de consumidores e a mutabilidade a qual reside a garantia de sua sobrevivência.