sábado, 26 de abril de 2008

Fichamento de HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios. (Capítulo III). In: A Era dos Impérios 1875-1914. Rio de Janeiro, Paz e terra, 1988. pp.88-123.

Eric J. Hobsbawm inicia o capítulo que concede nome ao livro fundamentando a razão de tal denominação. O espaço temporal enfatizado, 1875-1914, segundo o mesmo pode ter este título não somente por introduzir um novo formato de imperialismo, mas igualmente deter um número considerável de governantes que se consideravam imperadores de fato ou simplesmente merecedores desta condição.
Curiosidades a parte, o autor adentra nas questões mais relevantes nos parágrafos seguintes, assim Hobsbawm objetiva vislumbrar as reais motivações que conduziram um grupo de países europeus (juntamente com EUA e Japão, ainda que em proporções mais modestas) a impor sua supremacia bélica e econômica retalhando o globo em divisões por áreas de influência, submetendo os mais diferentes povos e localidades as suas aspirações.
Primeiramente, o texto registra o que especificamente constituiu a divisão implementada por este conjunto de certa forma restrito de países europeus e seus “discípulos” oriental e norte-americano. No período acima mencionado, o mundo, com exceção da América e do próprio continente europeu, fora dividido por Inglaterra, França, e em segunda escala, Alemanha, Itália, Holanda, Bélgica, EUA e Japão. Estes efetivaram uma nova forma de dominação, sobretudo sobre as extensões de impérios decadentes como no caso do espanhol e o português, apesar deste último ter mantido algumas extensões consideráveis devido à impossibilidade de acordo entre as potências de como proceder na respectiva partilha.
A dominação construída variava de região a região, os continentes Africano, Asiático e Americano protagonizaram distintas formas de dependência. Enquanto a África sofreu uma completa divisão territorial, com exceções extremamente restritas, como o caso da Etiópia, que se manteve “independente”; a Ásia conservou de maneira formal extensas áreas não pertencentes aos impérios europeus, contudo fortemente submissas à sua influência, e exatamente com esta nomenclatura um novo tipo de dominação se estabelecia , as chamadas zonas de influência conferiam outros moldes ao imperialismo praticado na parte asiática. O continente americano, através da extrema dependência econômica e do poder que esta confere nas decisões políticas; fora submetido sem uma efetiva ocupação militar por parte do imperialismo europeu.
Estabelecido os formatos do Imperialismo, o autor firma o eixo central de seu texto, distanciando-se de análises superficiais, Hobsbawm propõe o esclarecimento de quais foram as reais motivações para este expansionismo, que a princípio desencadeou-se a partir de disputas por locais de influência, porém acabou por ganhar contornos e significados mais abrangentes.
O autor ressalta o aspecto econômico como a razão mais básica para a divisão do globo. Porém, o mesmo realiza a tentativa de ampliar esta visão. Segundo este, o papel desempenhado pela maioria das áreas ocupadas e submetidas não constitui explicação suficiente para a “colcha de retalhos” na qual o mundo se transformou.
Algumas versões alternativas são utilizadas pela corrente antiimperialista, como a necessidade de expansão dos investimentos como principal agente propulsor do expansionismo e da obtenção de territórios exclusivos do ponto de vista comercial, todavia esta noção é desconstruída com um conjunto de constatações; talvez a mais importante delas esteja no baixo volume de capital aplicado nas áreas conquistadas pelos impérios. A exemplificação da Inglaterra que destinou a maior parte de seus investimentos para as colônias de povoamento já existentes confere contornos finais a esta hipótese.
O fator econômico ainda que descartado o seu lado investidor como o grande incentivador do imperialismo, não perde em importância, sobretudo do ponto de vista da procura de mercados consumidores. Como Hobsbawm destaca, ainda que por algumas vezes esta busca tenha fracassado, a motivação derivada deste processo é inegável; assim é possível demarcar um conceito mais aproximado do movimento contido no período de 1875-1914, uma conseqüência da dinâmica econômica internacional estimulada pelas rivalidades entre potências e suas produções industriais, cada vez mais concorrentes e intensas.
A rivalidade mencionada é estendida quando o autor trata do caráter simbólico no qual o imperialismo estava imerso. O status de potência passou a estar atrelado a capacidade de cada nação em subjugar países, territórios e culturas, como Hobsbawm ressalta:

Uma vez que o status de grande potência se associou, assim, à sua bandeira tremulando em alguma praia bordada de palmeiras (ou, mais provavelmente, em áreas cobertas de arbustos secos), a aquisição de colônias se tornou um símbolo de status em si, independente de seu valor. ( HOBSBAWM,1988,P.102).

Logo é introduzida uma nova justificativa ao expansionismo imperial, o poder frente a outras potências; além de significar que a cada novo território conquistado constituiria menos uma opção as forças concorrentes.
O caso italiano pode ser destacado como eficiente exemplo desta premissa, possuindo um poderio consideravelmente inferior as demais potências, e possivelmente sendo a nação européia de segunda grandeza mais fraca, especializou-se em conquistar áreas montanhosas e desérticas, desprezadas pelos demais impérios, porém ainda relevantes para este processo de obtenção de status.
Diante do exposto como caráter final da análise do referido texto, o proposto por Hobsbawm possibilita entender o imperialismo como um processo impossível de ser estudado separando-se os aspectos político e econômico. A busca por mercados consumidores e a exploração ainda que secundária das riquezas naturais presentes em áreas conquistadas caminham no mesmo ritmo com as rivalidades ideológicas e até mesmo nacionalistas, como autor ressalta; apesar de não se notabilizar melhoras efetivas da condição de vida européia com o imperialismo, a noção de grandeza e superioridade é fomentada, deste modo a procura por vantagens econômicas e a afirmação da nação certamente podem ser elencadas como importantes propulsores da divisão a qual a maior parte do mundo fora alvo.



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