sexta-feira, 20 de junho de 2008

Fichamento de SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Os Fascismos. In: O Século XX. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000. pp.111-164.

O professor Francisco Carlos em sua produção, Os Fascismos, propõe o entendimento do fascismo tal qual um movimento abrangente que se desenvolveu por variados Estados europeus. Descortinar a crença de que tal ideologia fora fomentada apenas pela Alemanha e que ainda nesta, seu alastro se explica pela ação de um conjunto restrito de idealizadores constitui o principal intuito do referido texto.
Inicialmente o autor preocupa-se em registrar o caráter parcial das informações circulantes no período posterior a segunda guerra mundial. O fascismo teve suas proporções drasticamente reduzidas a fim de atender aos interesses delimitados por um mundo bipolarizado. Não se mostrava compatível “demonizar” potenciais aliados, Logo se arquitetou um modo particular do lide com as questões de perseguição, massacre e limpeza étnica.
O Nazismo, que segundo o autor representa apenas a versão alemã do fascismo, fora encarado como o produto de um grupo reduzido de pensadores malignos, dos quais Hitler destaca-se por seu líder supremo. Indubitavelmente as atrocidades cometidas no período pós-primeira guerra mundial e no desenrolar da segunda consistem em atos fomentados por pessoas cruéis. Contudo somente indivíduos desequilibrados e “personificações do mal” participaram de tamanha empreitada? Esta e algumas outras problemáticas são debatidas ao longo da produção aqui analisada.
Deste modo se faz relevante firmar ponto crucial demonstrado por Silva; o fascismo possui um raio de ação mais extenso do que costumeiramente se divulga. Países como Croácia, Romênia, Hungria, Noruega, Espanha, Portugal entre outros, além da presença marcante na França, formavam alguns dos locais irradiadores dos preceitos totalitários; antidemocráticos, anti-socialistas e antiliberais. Assim, o autor visa estabelecer a constituição básica do fascismo a fim de ilustrar como este movimento marcara sua presença por quase toda a Europa.
O esforço empregado pelos países fascistas em particularizar seu projeto é destacado por Silva. O historicismo foi intensamente utilizado para este fim, por meio da idealização de algum lampejo do passado os regimes individualizavam seus slogans e personificavam seu estado, logo o Império Romano, os Germanos, Hunos, Vikings e até mesmo as antigas possessões ibéricas eram utilizadas para demarcarem a grandeza da nação e a necessidade de se criarem mecanismos para que esta glória fosse reavivada. A combinação essencial de alguns elementos em conjunto com a especificidade de cada país era notada, por vezes esta fórmula alterara sua roupagem, mas de modo algum modificou o seu núcleo, e por meio deste caminho o caráter subjetivo pertencente ao idealismo era implementado pelos regimes. Provavelmente este pode ser apontado como o primeiro aspecto em comum dos movimentos fascistas, ou do fascismo europeu.
Um segundo elemento pode ser demarcado pela aliança com os setores conservadores, o que o autor destaca como algo estrategicamente esquecido. Diferentemente do que se possa supor os partidos totalitários não alcançaram o poder sem apoio de grupos da elite. Tais alianças seriam responsáveis pelo não cumprimento integral de algumas das cartilhas partidárias, a fim de se formarem coalizões. Como Silva expõe; a figura do Duce ou do Führer não despontava como a personificação do poder absoluto que se poderia imaginar. Detentores, inegavelmente, de elevado poder mesmo as personificações dos regimes tinham que lidar com insatisfações e abandonar um ou outro projeto em prol do fortalecimento do apoio recebido. O afirmado expressa um contingente de colaboradores considerável, o que desmonta a ingênua percepção dos governos fascistas como verdadeiras autocracias.
O terceiro item em comum no emprego deste sistema está na forma como se dá a conquista das massas. Conforme o autor afirma, o liberalismo causará uma espécie de vácuo, o agora cidadão observou seu papel na sociedade ser obscurecido, seus direitos não supriam suas carências, estas últimas variavam desde a fome e a miséria, até a super-exploração de sua força de trabalho. Sem dúvida que tais dificuldades não eram inéditas, todavia os partidos fascistas centralizaram nestas os sintomas do fracasso do liberalismo e na inoperância da democracia. Este aspecto auxiliou a criação dos pilares que viriam a sustentar a destruição do poder legislativo, os intermedi foram apontados como responsáveis pela ineficácia do governo, propõe-se com isso a predominância do corporativismo. O Estado e somente este poderia suprir as necessidades dos cidadãos. A organização liberal-democrática serviria apenas para cercear a capacidade de ação estatal, logo deveria ser condenada ao abandono.
Como quarto elemento aqui destacado está o ódio ao que se mostra diferente. As perseguições a judeus, ciganos e homossexuais podem ser apontadas igualmente como um traço do fascismo. O nazismo não fora o único que incorporou a noção de combate aos “não-nacionais”.
Diante do exposto, ao se destacar alguns dos elementos comuns aos processos vivenciados por uma gama de nações européias, o autor conclui que o fascismo caracterizou-se como um processo amplo e abrangente, possuidor de fronteiras bem mais generosas do que comumente lhe são dadas. O resgate de alguns dos valores destes movimentos, praticados por grupos neonazistas e neofascistas, que despontam não somente como marginais declarados, mas como remodelações presentes em partidos de direita europeus, por exemplo, confere contornos finais a pretensa crença na exclusividade do fascismo. Tal qual o fora no período entreguerras, este sistema centraliza mais uma vez na idealização de seus símbolos e no combate do outro, que hoje se demonstra pela xenofobia, a solução para os problemas nacionais.

domingo, 8 de junho de 2008

Fichamento de HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995. pp.29 a 60.

Eric J. Hobsbawm propõe em seu texto, A Era da Guerra Total presente na referida obra, uma análise do que representou a ocorrência de duas guerras mundiais, suas dinâmicas próprias e seus efeitos mais diretos. Vislumbrar o que propriamente ocasionou os conflitos e quais mudanças estes conferiram ao conceito de guerra igualmente fazem parte de seu intuito.
Primeiramente se registra no texto o entendimento de guerra até então. A premissa do imperialismo influenciara em larga escala a compreensão do embate bélico como algo relativamente distante, acompanhado de glória e rapidez. O fim do século XIX, como o autor comenta,ilustra de modo eficaz esta percepção, no qual exércitos europeus possuíam uma superioridade colossal quando comparados às poucas resistências de suas colônias, o que transformara os mais organizados adversários em alvos.
A primeira guerra mundial certamente introduzira uma conceituação consideravelmente distinta. Iniciando-se pelo nível das forças de cada país, havendo ou não vantagem para um dos lados, esta diferença poderia ser colocada no campo das particularidades. A capacidade de produção, mobilização e ataque foram elevadas a estágios inéditos à humanidade, o que provavelmente tenha proporcionado a nomeação de Grande guerra.
Somados a este aspecto, o alcance dos efeitos beligerantes figuravam como conseqüências diretas e previsíveis, contudo chocantes. Os civis além de serem atingidos pelos subprodutos da guerra, como o caos instaurado, passaram à classificação de alvos determinados. Talvez um dos processos mais penosos da guerra tenha sido as estratégias montadas para se eliminar a população local com o corte do fornecimento de alimentos. Este mecanismo mesmo sendo destacado como algo relativamente inédito, não o era para os que idealizaram o conflito, afinal o aumento do poderio destrutivo de cada nação equilibrou assustadoramente as disputas, logo os artifícios utilizados tinham de ser expandidos, ainda que isso significasse matar civis de fome.
Deste modo, a Grande guerra introduziu um novo modus operandi; devastação, morte de civis como parte de uma estratégia, acrescentando-se novas tecnologias bélicas e um ritmo implacável de sua produção. Projetada para ser uma luta rápida, a guerra possuiu uma longa duração que levou nações e soldados a todos os limites disponíveis. O fato de não se ter previsto um período extenso de conflito conferiu a guerra de trincheiras a característica de guerra do esgotamento, psicológico, físico e material.
O desfecho desta praticamente em nada pode ser considerado como um ponto final as tensões. As transformações desencadeadas e as continuidades estabelecidas ditavam quase um tom profético ao que viria a ser a segunda guerra mundial. Dentre as modificações políticas citadas pelo autor, destaca-se o fortalecimento dos EUA, o qual desequilibrou a balança em favor dos aliados, evitando o que por um momento pareceu possível tamanho o avanço alemão e o enfraquecimento de França e Inglaterra, porém foram as continuidades que moldaram gradualmente o novo embate mundial.
As retaliações recheadas de revanchismo frente à Alemanha semearam o acirramento dos problemas que culminaram com a primeira guerra mundial, somados a alguns agravantes. Os regimes totalitários encontraram terreno fértil para a sua propagação em meio à miséria entre os outros frutos dos tratados determinados pelos vencedores. Como Hobsbawm ressalta; a Grande guerra entre tantas conseqüências, produziu tipos distintos de ex-combatentes, aqueles que desenvolveram total repúdio a violência, tornando-se pacifistas e ferrenhos críticos da guerra e os que fomentaram um forte sentimento de revanchismo, entre estes esta Adolf Hitler, o qual se apropria de um conjunto de argumentações que estavam mais próximas do primeiro conflito do que qualquer nova situação belicosa.
A segunda guerra mundial despontou como um acontecimento quase que anunciado com grande antecedência entre sua declaração e o início dos primeiros tiros. A progressão alemã fora ainda mais intensa, e até meados de 1942, como registra o autor discutido, beirava a condição de avalanche. Provavelmente este avanço nazista pode ser melhor compreendido com o que afirma Hobsbawm. O temor em se envolver em algo semelhante ao que fora a primeira guerra mundial enfraquecia qualquer ímpeto mais intenso de intervenção francesa e principalmente inglesa. As feridas abertas pelas numerosas baixas e pelo vultoso gasto empreendido estavam longe de cicatrizar, e em parte contribuíram para o atraso o qual se visualizou da entrada das potências na guerra.
A linha traçada pelo autor neste capítulo abstém-se de pormenorizar este segundo conflito global. Logo, comentando o raciocínio desenvolvido no texto, podemos concluir comentando as mutações sofridas pelo cenário geopolítico pós-segunda guerra. Além da devastação do território europeu e a conseqüente desarticulação econômica do continente, pode ser destacado a consolidação da agora superpotência EUA, que posteriormente notaria o fortalecimento de uma rival socialista. Certamente este fato reorganizou todo o contexto econômico e político mundial. Entretanto, a segunda guerra igualmente implementou alterações das relações trabalhistas; o potencial de mobilização dos trabalhadores fora ampliado e a introdução permanente do gênero feminino pode ser destacado como sub-produtos os quais igualmente iriam modificar de modo decisivo as interações sociais, políticas e econômicas.