domingo, 8 de junho de 2008

Fichamento de HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995. pp.29 a 60.

Eric J. Hobsbawm propõe em seu texto, A Era da Guerra Total presente na referida obra, uma análise do que representou a ocorrência de duas guerras mundiais, suas dinâmicas próprias e seus efeitos mais diretos. Vislumbrar o que propriamente ocasionou os conflitos e quais mudanças estes conferiram ao conceito de guerra igualmente fazem parte de seu intuito.
Primeiramente se registra no texto o entendimento de guerra até então. A premissa do imperialismo influenciara em larga escala a compreensão do embate bélico como algo relativamente distante, acompanhado de glória e rapidez. O fim do século XIX, como o autor comenta,ilustra de modo eficaz esta percepção, no qual exércitos europeus possuíam uma superioridade colossal quando comparados às poucas resistências de suas colônias, o que transformara os mais organizados adversários em alvos.
A primeira guerra mundial certamente introduzira uma conceituação consideravelmente distinta. Iniciando-se pelo nível das forças de cada país, havendo ou não vantagem para um dos lados, esta diferença poderia ser colocada no campo das particularidades. A capacidade de produção, mobilização e ataque foram elevadas a estágios inéditos à humanidade, o que provavelmente tenha proporcionado a nomeação de Grande guerra.
Somados a este aspecto, o alcance dos efeitos beligerantes figuravam como conseqüências diretas e previsíveis, contudo chocantes. Os civis além de serem atingidos pelos subprodutos da guerra, como o caos instaurado, passaram à classificação de alvos determinados. Talvez um dos processos mais penosos da guerra tenha sido as estratégias montadas para se eliminar a população local com o corte do fornecimento de alimentos. Este mecanismo mesmo sendo destacado como algo relativamente inédito, não o era para os que idealizaram o conflito, afinal o aumento do poderio destrutivo de cada nação equilibrou assustadoramente as disputas, logo os artifícios utilizados tinham de ser expandidos, ainda que isso significasse matar civis de fome.
Deste modo, a Grande guerra introduziu um novo modus operandi; devastação, morte de civis como parte de uma estratégia, acrescentando-se novas tecnologias bélicas e um ritmo implacável de sua produção. Projetada para ser uma luta rápida, a guerra possuiu uma longa duração que levou nações e soldados a todos os limites disponíveis. O fato de não se ter previsto um período extenso de conflito conferiu a guerra de trincheiras a característica de guerra do esgotamento, psicológico, físico e material.
O desfecho desta praticamente em nada pode ser considerado como um ponto final as tensões. As transformações desencadeadas e as continuidades estabelecidas ditavam quase um tom profético ao que viria a ser a segunda guerra mundial. Dentre as modificações políticas citadas pelo autor, destaca-se o fortalecimento dos EUA, o qual desequilibrou a balança em favor dos aliados, evitando o que por um momento pareceu possível tamanho o avanço alemão e o enfraquecimento de França e Inglaterra, porém foram as continuidades que moldaram gradualmente o novo embate mundial.
As retaliações recheadas de revanchismo frente à Alemanha semearam o acirramento dos problemas que culminaram com a primeira guerra mundial, somados a alguns agravantes. Os regimes totalitários encontraram terreno fértil para a sua propagação em meio à miséria entre os outros frutos dos tratados determinados pelos vencedores. Como Hobsbawm ressalta; a Grande guerra entre tantas conseqüências, produziu tipos distintos de ex-combatentes, aqueles que desenvolveram total repúdio a violência, tornando-se pacifistas e ferrenhos críticos da guerra e os que fomentaram um forte sentimento de revanchismo, entre estes esta Adolf Hitler, o qual se apropria de um conjunto de argumentações que estavam mais próximas do primeiro conflito do que qualquer nova situação belicosa.
A segunda guerra mundial despontou como um acontecimento quase que anunciado com grande antecedência entre sua declaração e o início dos primeiros tiros. A progressão alemã fora ainda mais intensa, e até meados de 1942, como registra o autor discutido, beirava a condição de avalanche. Provavelmente este avanço nazista pode ser melhor compreendido com o que afirma Hobsbawm. O temor em se envolver em algo semelhante ao que fora a primeira guerra mundial enfraquecia qualquer ímpeto mais intenso de intervenção francesa e principalmente inglesa. As feridas abertas pelas numerosas baixas e pelo vultoso gasto empreendido estavam longe de cicatrizar, e em parte contribuíram para o atraso o qual se visualizou da entrada das potências na guerra.
A linha traçada pelo autor neste capítulo abstém-se de pormenorizar este segundo conflito global. Logo, comentando o raciocínio desenvolvido no texto, podemos concluir comentando as mutações sofridas pelo cenário geopolítico pós-segunda guerra. Além da devastação do território europeu e a conseqüente desarticulação econômica do continente, pode ser destacado a consolidação da agora superpotência EUA, que posteriormente notaria o fortalecimento de uma rival socialista. Certamente este fato reorganizou todo o contexto econômico e político mundial. Entretanto, a segunda guerra igualmente implementou alterações das relações trabalhistas; o potencial de mobilização dos trabalhadores fora ampliado e a introdução permanente do gênero feminino pode ser destacado como sub-produtos os quais igualmente iriam modificar de modo decisivo as interações sociais, políticas e econômicas.

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