sábado, 29 de março de 2008

Fichamento de HOBSBAWM, Eric J. A Revolução Centenária. In: A Era dos Impérios 1875-1914. Rio de Janeiro, Paz e terra, 1988. pp.29-56. (texto 3).

Eric J. Hobsbawm determina de forma explícita em seu texto, A Revolução Centenária, o questionamento e a intenção de promover uma análise comparativa da situação mundial entre os términos dos séculos XVIII e XIX, a título de simplificação e um melhor entendimento dos mecanismos exercidos pelo autor, trataremos de esmiuçar seus destaques em relação aos fins do XIX contrastando com a mesma parcela temporal do XVIII.
Inicialmente são abordados os aspectos tecnológicos que no espaço de uma centena de anos haviam realizado um salto e transformado diversos setores da sociedade. Assim o autor destaca a ferrovia e a navegação a vapor que além de reduzirem o tempo necessário para se percorrer distâncias consideráveis, aumentaram em larga escala a capacidade de transporte.
O número de habitantes do globo tem neste espaço de tempo uma intensa elevação, ainda que os asiáticos permanecessem em quantidade majoritária; os europeus quase dobraram o seu contingente. Este fato permitiu um deslocamento inédito em termos quantitativos da população européia pelo mundo, sobretudo para as Américas que no respectivo momento histórico praticamente quintuplicam seu número de habitantes.
O autor ainda utiliza mais algumas páginas explorando a questão dos avanços técnicos, como o telégrafo elétrico, o que concretizou a transmissão de informações a diversas partes do globo. Além de mencionar igualmente o volume notável de circulação de bens, pessoas, capital; logo o mundo até então não tinha conhecido um nível de aproximação com tamanha complexidade. Contudo, após se reter aos itens positivos atrelados a este progresso, Hobsbawm destaca os efeitos negativos de tais transformações, mais especificamente os provocados pelo capitalismo, agora mundial.
O texto traz os efeitos da revolução industrial, que aproxima pessoas, culturas e países e que simultaneamente divide mercados, capitais, provoca rivalidades e estabelece os mais profundos laços de dependência. Como o autor afirma:

...no século XIX a defasagem entre os países ocidentais, base da revolução econômica que estava transformando o mundo, e os demais se ampliou, primeiro devagar, depois cada vez mais rápido. (HOBSBAWM, 1988,p.32.).

As diferenças entre países europeus e o resto do mundo, e entre os próprios estados do velho mundo, começam a ser de modo crescente mais marcantes.
Um bom exemplo deste processo consiste na tecnologia, os avanços da ciência ainda que se tornassem de conhecimento geral, no que diz respeito a sua divulgação pelos mais variados países, o seu acesso era extremamente restrito. Somado a esta desigualdade técnica, o pêndulo bélico que comumente tendia ao lado europeu com a revolução industrial e seu respectivo fortalecimento, praticamente se quebra na direção do velho continente, a desproporcionalidade entre o poderio militar dos países ricos industrializados e os especialistas primários ganha contornos de abismo.
As considerações seguintes tratam de demonstrar a complexidade de se estabelecer algumas divisões. Como a de classificar a situação mundial formada por dois blocos, o primeiro de países ricos e o segundo de estados pobres. Apesar da aparente simplicidade de tal denominação, Hobsbawm enfatiza que:

Enquanto o (menor) Primeiro Mundo, apesar de suas consideráveis disparidades internas, era unido pela história e por ser portador conjunto do desenvolvimento capitalista, o Segundo Mundo (muito maior) não era unido senão por suas relações com o primeiro, quer dizer, por sua dependência potencial ou real. (HOBSBAWM,1988,p.33.).

Deste modo, após ter tratado de um mundo interligado, e de uma sociedade testemunha de grandes avanços. O autor começa a abordar as nuances econômicas e seus respectivos efeitos em países que visualizam laços cada vez mais profundos e conseqüências cada vez mais distintas.
Como Hobsbawm expõe, o continnente europeu em meados de 1880 era o centro capitalista original dominante e principal agente transformador do planeta. Ainda que as diferenças internas da Europa fossem consideráveis, a sociedade européia começa a notar a expansão de conceitos como o de cidadão, e visualiza seus direitos e deveres fincarem raízes; de forma mais intensa ou mais gradual as localidades da região ganham acesso à concretização de alguns aspectos até então apenas teóricos.
África, Ásia e América,contrastando com este cenário, distanciam-se desta realidade. A dependência econômica e até mesmo de um modo mais direto no campo político, acrescentados a uma forte dominação interna de algumas elites comprometidas com seus interesses mais do que nunca internacionais como no caso da América, com exceção dos Estados Unidos, estabelecem um atraso em quase todos os níveis em relação ao centro europeu.
Uma corrente intelectual, ignorando estes fatores, utilizou-se da biologia para fundamentar tais desigualdades. A humanidade fora dividida e hierarquizada, o branco europeu (rico) é colocado no topo da evolução. Com esta proposta justificava-se a pobreza no mundo como algo biológico, logo não eram a exploração econômica, a dominação bélica e a imposição política que provocavam tais particularidades, e sim a natureza.
Diante do exposto, Hobsbawm consegue apresentar o caráter dual do avanço industrial capitalista e o relativo progresso da humanidade entre os séculos XVIII e XIX, a sociedade encurtou distâncias, acelerou a produção, propagou de modo inédito a informação, contudo aumentou as discrepâncias entre as pátrias, concedeu uma voz ainda maior as armas e por fim hierarquizou a humanidade tornando natural os problemas cada vez mais frutos da ação do homem.

Fichamento de FALCON, Francisco José Calazans. O Capitalismo unifica o mundo. In:O Século XX . Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000. pp.13-73.

Francisco José Calazans Falcon se propõe a realizar uma análise do capitalismo, o que implica na tentativa de conceituar suas bases; além de como eixo principal de seu texto descrever de que maneira este sistema progressivamente avançou pelas fronteiras das mais variadas culturas e quais impactos tal entrada proporcionou.
Inicialmente o autor registra o grau de dificuldade presente no trabalho com os conceitos. Segundo este, o lide conceitual possui na abstração das idéias e em sua generalidade os principais obstáculos a serem enfrentados. Deste modo, após explicitar possíveis comprometimentos de sua abordagem o autor a começa de fato pela construção da noção de mercado.
Priorizando-se a definição que se mostra mais útil e relevante ao longo do texto, conforme explicita Falcon:
O mercado genérico é então algo como um “sistema” de dimensões variáveis que articula todo um conjunto de mercados concretos, de produtos destinados ao consumo ou a novos negócios, ou de fatores de produção ( terra, capitais, trabalho).( FALCON,2000,p.15.).

Após tais considerações o autor introduz o questionamento sobre a capacidade do referido mercado se auto regular. Firmado o conceito de mercado, o texto alcança o que aparentemente consiste no ponto de maior pertinência da discussão; O que pode ser compreendido e aceito como capitalismo? Esta proposta norteará todo o rumo do referido estudo.
Antecedendo-se a qualquer tipo de resposta, o autor preocupa-se em expandir os mecanismos que possam auxiliar na formação de um parâmetro. Razão pela qual a história da constituição do mercado internacional é abordada. Esta é entendida como uma dinâmica na qual os Estados modernos europeus e suas disputas pelos lucros provenientes do sistema de colônias, guiadas pelas premissas mercantilistas presentes no antigo regime, assim segundo Falcon os séculos anteriores a revolução industrial podem ser considerados como pré-capitalistas, igualmente estabelecendo-se par tal período o domínio do capital comercial.
Deste modo o texto traz uma outra importante consideração sobre a história do mercado internacional, contudo em termos de análise do “sistema mundial moderno”, este por sua vez tem como principal objetivo a articulação dos modos produtivos. Logo, o mercado mundial da era moderna se estabelece como a integração e hierarquização de regiões e modos de produção que se distribuem por blocos denominados: centro, periferia e semi-periferia.
Posteriormente as considerações sobre a história do mercado internacional, Falcon organiza seu texto realizando a seguinte divisão: O período pré-capitalista e o capitalista de fato. Considerando que os séculos XV/XVI ao XVIII correspondem ao primeiro e os séculos XIX e XX ao último. Deste modo utilizando-se de E.Labrousse o autor inicia uma importante diferenciação do pré-capitalismo e o capitalismo respectivamente.
Iniciando-se pelo regime econômico anterior ao capitalista são estabelecidas três características básicas. A primeira delas constitui a primazia da agricultura, acompanhada da precariedade dos transportes e uma indústria de bens de consumo.
Diferentemente do capitalismo propriamente dito; este possui o predomínio da indústria, não somente no valor dos investimentos, mas igualmente em sua importância estratégica, como o autor registra: A indústria pesada prepondera, economicamente, sobre as indústrias leves.( FALCON, 2000, p.21). Os transportes oferecem maior eficiência tanto no tempo como na capacidade de carregamento. E finalmente o mecanismo das crises sofre uma modificação basilar não mais a de subsistência e sim a de super-produção e a conseqüente desvalorização e queda nos preços.
Com estas particularidades, o texto responde o que pode ser entendido como capitalismo, além de tecer uma cadeia de informações fundamentais que auxiliarão o alcance do objetivo ora mencionado; A compreensão de como o capitalismo unifica o mundo.
Falcon ressalta a mudança da forma, assim como do papel desempenhado pela indústria no capitalismo, esta passa, além de uma atividade altamente lucrativa , a ser algo estratégico. Como determina o mesmo, a expansão capitalista no século XIX constitui em um processo intimamente ligado a existência de um sistema de Estados-Nações. Logo a importância de uma industrialização bem sucedida acaba por ser sinônimo de liderança, ou pelo menos um papel relevante, na expansão colonial e financeira do capital.
Um segundo ponto a ser destacado do que fora afirmado esta na evolução dos transportes, como dito; mais rápidos e com uma capacidade maior, o capitalismo ganha “asas”, esta progressivamente contribuem para uma maior integração do mercado nacional e em último o degrau, e essência defendida pelo texto, a formação de um mercado internacional cada vez mais entrosado, unido pelo capital, pela produção, pelo intercâmbio.
Esta premissa culmina com o chamado Neo-colonialismo. Através da supremacia inglesa, no que diz respeito a tecnologia como um todo, seja ela industrial-comercial, ou industrial-bélica, juntamente com uma rival, ainda que inferior, poderosa; a França, e uma Europa sedenta por colocar em prática o exemplo Inglês, o continente africano e o asiático são inseridos na dinâmica capitalista, por meios econômicos ou pelo poderio militar, as potência de “primeira e segunda grandezas” inundam os territórios extra-europeus com seus produtos e suas dinâmicas, seu capital e seus soldados.
Sequencialmente Estados Unidos e Japão dão origem a novos centros Imperialistas-Capitalistas, contudo a Europa até meados da primeira guerra mundial desponta como o grande centro irradiador do capitalismo. Assim, sobrepujando costumes locais, formas de comércio e produção regionais, o capitalismo concedeu ap mundo a mesma batida econômica. Ainda que esta progressivamente fosse ditada em ritmos cada vez mais distintos.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Resumo de BERMAN, Marshall. Modernidade: Ontem, Hoje e Amanhã. In: Tudo o que é sólido desmancha no ar. (Texto1).

A introdução, Modernidade: Ontem, Hoje e Amanhã; contida no trabalho de Marshall Berman, “Tudo o que é sólido desmancha no ar; A Aventura da modernidade” inicia a discussão sobre como aproximar-se de um entendimento do que venha a ser modernidade, além de abordar como esta concepção sofreu modificações através dos séculos, e igualmente há a tentativa de possibilitar uma melhor compreensão dos conceitos e movimentos a esta atrelada.
A explanação tem no seu início o estabelecimento do caráter paradoxal do que venha a ser o moderno. As possibilidades transformadoras desta noção somente se igualam em número e intensidade às perspectivas destruidoras. Segundo o autor se o novo confere a promessa de aventura, progresso e superação de barreiras, do mesmo modo este poderia vir a desencadear a perda do que já fora alcançado, o que confirma o paradoxo da experiência moderna.
Firmado esta premissa, Berman registra a intenção de compreender de que maneira as transformações as quais o conceito de moderno sofreu podem influenciar no que hoje se considera modernidade. A divisão da História da modernidade proposta pelo autor visa claramente cumprir esta, apesar do mesmo reconhecer a impossibilidade de se precisar algo tão extenso.
Detalhando tal divisão, a primeira fase deste processo, conforme o texto discutido, está no início do século XVI até o término do XVIII, período no qual as pessoas não possuem um percepção nítida do movimento proveniente da modernidade, ainda que estas possam estar inseridas de modo mais intenso neste.
A segunda fase consiste no momento pós-revolucionário de 1790. Como expõe Marshall as pessoas detêm o sentimento de viver em meio as “ondas” revolucionárias e seus respectivos efeitos nos campos econômico, político e social; contudo este mesmo público simultaneamente traz marcado a experiência do que é estar em um mundo que não realizou outras tantas transformações, tal conflito fica o aspecto dual desta fase.A dualidade citada ajuda a construir a idéia de modernismo e modernização. Estes irão caracterizar amplamente a terceira e atual fase, expandindo-se virtualmente, como ressalta o autor, por todo o globo.
Após propor esta divisão o autor explicita novamente a contradição na qual a palavra modernidade está ligada, pois de acordo com este o alcance global do moderno atua de modo a fragmentar, defasar e enfraquecer a formulação de um conceito que realmente esteja presente na vida das pessoas, desta realidade derivaria a perda da era moderna do contato com as raízes de sua própria modernidade.
Com o intuito de esclarecer o paradoxo e a maleabilidade pertencentes as noções de modernização e modernidade, Berman se utiliza das percepções de Marx e Nietzsche. Primeiramente o autor enfatiza a porção irônica da modernidade, pois, segundo Marx, as forças de vanguarda da sociedade devem ser governadas pelos homens de vanguarda, ou seja os operários, ainda de acordo com Marx, estes são uma invenção dos tempos modernos tal qual o maquinário.Deste modo, utilizando-se o pensamento de Marx o autor aplica a este sua própria dinâmica, logo caso o proletariado atingisse o poder o que impediria de ser absorvido por uma nova forma social?
Marshall reafirma sua compreensão da modernidade como caminhos que possam conduzir a um trevo de oportunidades ou ao abismo do caos ao citar Nietzsche, este considera a humanidade em meio a uma grande ausência de valores, entretanto em meio a uma desconcertante abundância de possibilidades.
O autor menciona o elo de importantes pensadores do século XIX, entre eles os já citados, a respeito do homem moderno, este teria a capacidade de mesmo fazendo parte de um infeliz presente poder imaginar um caminha alternativo capaz de ganhar contornos de brecha para o futuro.
A credulidade do século XIX apresentada irá contrastar com o início do século XX e a descrença de Weber, segundo este seus respectivos contemporâneos constituíam uma massa nula que acreditava que acreditava ter atingido um nível de desenvolvimento inédito. Conforme Berman, este pensamento traduz o desaparecimento do homem moderno como um ser vivente capaz de julgar e agir sobre o mundo. O texto destaca a adesão deste conceito por vários pensadores do século XX.
Próximo desta concepção, segundo Marshall, o modernismo aparece como um caminho de libertar artistas modernos das impurezas e vulgaridades da vida moderna, completamente “ausente” de preocupações com a dinâmica social, assim como de suas problemáticas.
Contrariando o afirmado por Weber e seus simpatizantes, vários pensadores vislumbraram o modernismo como uma constante ferramenta contra a totalidade da existência moderna. Esta imagem ganhou força com o apogeu da atmosfera política, sobretudo na década de 60.
Posteriormente registra-se no texto a filiação de artistas e trabalhadores intelectuais ao estruturalismo que risca a questão da modernidade; além do pós- modernismo que de acordo com Berman, não passa de um movimento fomentador da ignorância da história e da cultura modernas.
O autor encerra seu texto consolidando sua crença de que os modernismos predecessores podem resgatar o sentido de nossas raízes modernas, por meio da recordação dos modernistas do século XIX haveria uma possível renovação da coragem para criar novos agentes modernos; assim analisar as modernidades anteriores poderia ser para Marshall uma crítica às atuais e uma esperança a construção de futuras.